domingo, 3 de abril de 2011

Incoerências...

Eu acordei e já se fazia noite, não sabia as horas, apenas tinha conhecimento de que havia algumas horas que a escuridão adentrava minhas janelas sem permissão de quem quer que seja para se acomodar dentro de meu apartamento. Não consegui entender como ela conseguiu escalar quatro andares até me encontrar.

O silêncio parece ter vindo em companhia, se fazia presente por todos os minutos, e não pulou a janela de volta quando expulsei a noite acendendo as luzes como tentativa de mostrar que não queria estranhos por perto. Talvez devesse dizer que apesar dos móveis o apartamento estava por completo vazio, assim ficaria evidente meu incomodo diante a indesejável presença do silencio. Tudo isso soa estranho, parece louco me importar em receber alguém tão desejado em minha casa, no entanto era enlouquecedor tê-lo ali me encarando, como me ameaçasse expulsá-lo. E eu fiz, por várias vezes gritei que ele fosse embora, mas nada, ele podia se esconder nas horas em que meus gritos eram ensurdecedores, mas bastava eu me calar para ele voltar, e mais uma vez ameaçar a não sair dali. Inquieto eu peguei meu telefone e liguei para uma de minhas amigas, ele acompanhava toda a conversa a distância, de modo que não consegui ficar mais que 5 minutos conversando.

Por mais de 7 horas eu fui refém de dois dos mais perversos terroristas, que pareciam não ser sensibilizarem com toda minha angustia. O silêncio era que me torturava, entretanto era à noite a mais fria deles, mesmo mantida do lado de fora, ela não tinha medo de que alguém pudesse derrotá-la, pois ficava claro que meus gritos por socorro não a coagiam.

Foi à luz do dia quem me libertou, eu estava caído entre as fotos de Julia e a garrafa vazia de uísque quando os primeiros raios do dia me acordaram e mostraram que meu cárcere havia acabado, sem que me dissessem uma palavra, eu havia compreendido perfeitamente que eles haviam fugido, o barulho que vinha da rua me dava a certeza de que nem o silêncio ficou para me assombrar.

Agora eu estava livre, no entanto continuava a me sentir preso... Desde que Julia se foi tem sido assim, não consigo suportar a liberdade que tenho sem ela, e não tenho forças para sair de casa e me libertar da dor de tê-la perdido para morte, que egoísta a tirou para sempre de mim.

(As noites de Tiago – Leonardo Kifer)

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