sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Indesejável petulânte.

Não é por acaso que inesperadamente nos esbarramos com alguém que surpreendentemente nos fará enxergar a vida por outro ponto de vista, e sem que tenhamos nos dado conta, estaremos deixando para trás valores que antes pareciam ligados a nós como sangue.

O outro virá e dirá tudo o que não queremos ouvir, e sem pedir, jogará diante de nossos olhos o que antes não conseguíamos ver, e sua petulância não cessará com isso, pois certamente te fará mudar, tomar a iniciativa de refazer os “acertos errados” que outrora cultivava.

E quando nos depararmos com a transformação refletida no espelho, sim, por que ela também é física, nos sentiremos incompletos e nesta hora iremos perceber que no fundo a mudança é movida pela paixão.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Aprendiz da ausência

Talvez eu devesse pensar como Drummond, e assim enxergar a ausência como “um estar em mim”, sim, uma doce vivência de me sentir por completo, me ter a ponto de saber o que falta e me deliciar com a maravilhosa experiência de rir nos momentos de pura abstinência. Mas a verdade é que não sou como Drummond...

Além de me serem escassas as palavras, ainda preciso do tempo como aliado, professor e conselheiro para caminhar ao meu lado em busca da sabedoria, que nenhuma ciência é capaz de nos dar. Torna-se sábio aquele que vive.

Resta-me apenas assumir minha inaptidão em lidar com a ausência, e assumir em lágrimas que sou fraco que as lembranças se fazem presentes, e quase sempre elas me visitam.

Vez ou outra me pego olhando para o lado, e não o encontro... Sua voz tem sumido cada vez mais, como se a imagem fosse o único recurso para se fazer lembrar. Por todos os cômodos o vazio é eminente e é impossível fingir não senti-lo... É difícil não senti tremer a boca quando ouço seu nome ou quando alguém despercebidamente fala sobre ele, é doloroso demais não tê-lo e só poder lembrar...

Queria aprender ser como Drummond para nos momentos em que a saudade for incontrolada e o resultado forem às lágrimas, como as de agora, que eu a sinta branca, tão pegada, aconchegada aos meus braços, me fazendo rir e dançar enquanto invento exclamações alegres, para ninguém roubar a ausência que sinto do meu pai de mim.

(Aprendiz da ausência – Leonardo Kifer)

*Cito versos do poema “Ausência” de Carlos Drummond de Andrade.

domingo, 19 de setembro de 2010

Domingo com frio...

Quantas vezes não acabamos criando expectativa em relação a algo que esteja acontecendo em nossas vidas? Acabamos alimentando em nossos corações a esperança de que nossos desejos se realizem, e por fim a felicidade seja dada como certa.

Talvez não sejamos tolos por acreditarmos em um final feliz, ainda que a realidade insista em querer que tenhamos a incredulidade como parceira de nossas vidas.

Por teimosia eu insisto em sempre acreditar que sim, pode dar certo! E que apesar de todas as decepções que vivemos, o final feliz é sempre possível de acontecer.

Ficam apenas os bons momentos como lembranças, pois de certo a frustração já nos ensinou cometermos os mesmos erros.

(Domingo de frio – Leonardo Kifer)

Co-existência

Aí quem me dera se por um único dia eu pudesse esquecer-se dos momentos em que chorei, e me enganar por não viver tudo o que vivi...

De imediato não teria lembranças dos amores que vivi, pois chorei por grande parte das vezes em que amei. Amar sempre me foi intenso, jamais amei pela metade, um jurei sem realmente ter certeza do que sentia... E me doeu, o “adeus” que ouvi, dos outros e os que eu mesmo pronunciei...

Não lembrar as minhas lágrimas me faria pensar que os que a saudade é uma sensação vazia, pois estaria ainda próximo de todos que deste mundo se foram, e do colo da minha avó, as visitas esporádicas da minha tia eu teria o mais precioso de tudo o que a vida me tirou, o abraço “frio” e desconsertado do meu pai.

Não teria medo, pois até o mais covardes dos sentimentos faz um homem chorar... Seria o mais corajoso de todos, e faria tudo que por dúvida e insegurança renunciei... Não haveria arrependimentos, restaria apenas o orgulho de ceder aos obstáculos.

Se de repente esse dia chegasse, e neste dia só as alegrias fossem reais, eu seria mentira, não teria passado, seria finito em minhas lembranças, não teria histórias e por fim, me faltariam os aprendizados que a vida me ensinou. Restaria apenas o sorriso, mas não teria a certeza de poder sorrir. Não me tirem às lágrimas da vida, pois preciso delas para continuar a ser quem sou.

(Co-existência – Leonardo Kifer)

sábado, 18 de setembro de 2010

Incompleto...

Abriram as cortinas,

Uma mulher e uma rosa em cena,
De repente um intruso.
Do inesperado surge a paixão.

A rosa cai,
A mulher se desespera,
O intruso se vai.

Não há falas,
A apenas a mulher,
E a rosa no chão.

Lágrimas,
A mulher se vai...
A rosa ainda no chão.

O silêncio denuncia um amor acabado,
Dê uma história que não terá recomeço...
E deixa à rosa, que não sobreviveu à traição.

(Do inesperado ao amor – Leonardo Kifer)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Desdobrando meu eu.

Nem sempre alinhamos as nossas vidas as necessidades que sentimos de ter um amigo ou alguém especial por perto. Passamos despercebidos ou despercebendo, tamanha é a quantidade de informação que tomamos para nós. Tudo é sempre muito importante ou é para “agora”. E sem que tenhamos nos dado conta, estamos nos isolando e isolando outras pessoas de nossas vidas. É o vazio em meio a uma multidão de outros como você.

Temos problemas. E que não os tem? Esquecemos sempre de olhar para o próximo e encontrar nele o nosso reflexo. SIM! Somos iguais a qualquer outra pessoa, o que nos difere dos demais é a condição que vivemos. Nada além da aparência. Estranho não é?

Freqüentemente olhamos para um individuo que esta passando por nós e o julgamos pelo modo de como este se veste ou se comporta, fazemos uma análise critica para ver se ele se enquadra nos padrões de beleza estipulados. Sim, para fazer parte desta nossa vida atribuladíssima na busca constante pelo consumismo, é preciso se adequar a todas as regras de estilos e padrões sócias.

Tanta coisa não? Perdemos tanto tempo de nossas vidas pensando e vivendo coisas que não fazem diferença para a construção de quem somos enquanto seres humanos, que deixamos escapar por entre nós o importante, viver! E viver não é só pensar e estar no singular, não, é ir além. Salve as crianças, que enxergam as pessoas pelo modo de como elas são recebidas, e muitas vezes elas rompem a seriedade do mais ranzinzas com um simples sorriso.

Talvez tenhamos que começar a sorrir mais vezes, enxergar além do feio e belo e não gastarmos tempo com coisas que no fim, não nos acrescentaram... Há sempre tempo para corrigir velhos erros e recomeçar, e ainda que a jornada seja longa, ela começara como qualquer outra: com um primeiro passo.

domingo, 12 de setembro de 2010

Sem camélias, sem margaridas...

Não tinha ninguém no salão, o vazio era agonizante, o silêncio ensurdecedor, Margarida sempre estivera certa, não sobrariam mais amigos quando a morte fosse dada como certa. Dos amigos apenas Prudência permaneceu por perto, não fechou suas janelas um dia sequer, atendeu a todas as vontades de Margarida, sem questionar nenhuma.
Dói o frio que sinto longe do olhar quente e intenso que me aquecia a alma, e alimentava diariamente minha paixão.

Era eterno, ou devia ser, casamos em um dia de chuva. Paris estava coberta de água e eu de amor, e apesar do preconceito daqueles que achavam maluquice minha casar com uma mulher doente, condenada a morte, eu fui feliz.

Estranho achar felicidade em curtos dias. Não completamos um mês, ela não suportou a mais um inverno e cedeu covardemente a tuberculose que por tantos anos ignorou.

Não existem Duques ou Barões quando se escolhe o amor, não! Existem homens que não aceitam lidar com a perda de uma bela mulher. O ciúme é fatal, apesar de não matar. Margarida apesar de odiada, foi amada não só por mim, também por quem a odiou.

Tarde demais eu diria, mas não tem ninguém além de mim. Além de mim, apenas o que sobrou...

(Após a morte da Dama das Camélias – Leonardo Kifer)

sábado, 11 de setembro de 2010

Basta de contar histórias sobre mim

O que falam de mim, rosas ou margaridas?
Não sei.
Soltem penas,
Deixem plumas,
Suas línguas ferinas.

Não me importo com as bocas soltas que falam sem saber...
Não! Não me importo.

Sou segredo,
Mistério,
Um livro que não se pode ler.

Então antes de apontar,
Descubra!
E não cometa novamente calúnias.
E deixe de julgar antes de conhecer!

(Chega de Intrigas – Leonardo Kifer)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Saudades...

Aquela tarde fria na praia misturada entre areias e risadas, e o pôr do sol nos convidando a voltar para casa, pois dali a pouco o ano iria acabar.

Os passeios por uma Av. Brasil tão perigosa, mas que de perigo só mesmo de perdemos a hora de devolver o carro.

Doces, pipocas, filme alugado, um monte de gente juntos e ninguém assistindo nada.

Bate bocas, bocas em beijos... Tudo eram beijos, quando não, sexo!

Leblon badala para encontrar Ipanema após o Jardim de Alah, eu quero me refrescar com a água de coco e o mar agitado do Arpoador.

Quantas saudades, que nem em mil tardes poderei matar,

É vaidade minha querer reviver momentos de felicidade,

De um presente/passado,

Em lembranças suaves tratou de eternizar.

(Brisa – Leonardo Kifer)

domingo, 5 de setembro de 2010

Incompleto

Eu te amo.

Talvez outras frases não fossem tão assustadoramente frágeis quanto esta, pois se dita na hora errada, pode condenar duas pessoas a viverem completamente separadas. E foi assim que perdi Julia para sempre.

Julia sempre esteve do meu lado em tudo que eu fosse fazer. Não importava se ficaríamos de castigo por atirar aviãozinho de papel na sala de aula do jardim da infância, se nossos pais descobririam que estávamos matando aulas para irmos ao cinema já no ensino médio ou se teríamos que inventar a mesma desculpa para justificarmos o porquê de viramos a noite fora de casa bebendo com os amigos em frente ao circo voador, a cumplicidade era nossa maior aliada.

Um dia, quando menos esperava, me peguei olhando para Julia, e percebi que jamais havia notado o quão bela ela era. Sua pela era extremamente clara e lisa, seus olhos esverdeados ganhavam destaque por conta do contraste do negro de seus cabelos, sua boca era desenhada de um jeito que era impossível não sentir vontade de beijá-la e seu cheiro decididamente era único. Linda era um jeito rude de defini-la.

Eu havia demorado anos para descobrir que amava a menina que cresceu comigo, mas fiquei aflito por medo de perder um dia a mais para dizer o quanto a amava.

A ansiedade que tomou conta de mim se difundiu com o nervosismo da situação, e ao encontrar Julia, disse sem medo que a amava.

Ela ficou parada por alguns segundos me olhando, como se não acreditasse em minhas palavras. O silêncio foi interrompido por palavras confusas e quase indecifráveis. Ela parecia nervosa com a nova informação, e era perceptível que saber que eu a amava não a fazia feliz. Precisei interrompê-la, pois à medida que ela fala, as palavras perdiam sentido. E impaciente ela gritou que não podia me amar.

Sem ouvir mais explicações eu me afastei de Julia, me afastei até mesmo das pessoas que faziam parte do nosso ciclo de amizade. Eu era só, no imenso deserto de coisas que me fazia lembrar Julia.

Ontem, depois de anos, percebi que jamais soube o porquê dela não poder me amar... Eu fui covarde, por todos esses anos eu não fiz nada além de me afastar, sequer procurei viver uma nova história. Fui uma página em branco de um diário incompleto.

O passado finalmente ganhou seu lugar, a dor que me consumiu por tanto tempo deixou de existir... E eu pareço ter acordado de um sonho repetido, e me libertado para viver o presente.

Julia agora é só uma lembrança bonita, de uma amizade que sempre guardarei comigo.

(Incompleto – Leonardo Kifer).

*Recado para Zil: Meu anjo, deixa o endereço do teu blog, pois tenho tentado entrar e não consigo.

Feliz aniversário Cella!

O que pensar de um anjo que não tem asas, não é 100% bondade e vira e mexe parece querer mudar seu destino?

Será que é anjo ou é uma simples menina que no Planeta Terra resolveu morar?

Vai o vento e leva a pluma, da última pena que ele tinha.

Olha a areia, o pé sujo, se comporta, toma jeito menina.

Voa anjo, vem depressa, dê um jeito de flutuar...

Mostre a todos tua alegria, suba ao palco, mas cuidado para não cair de lá.

É o céu, tão azul, maravilha de lugar.

É o canto, tão suave, que nem parece a levada da menina ressoar.

Uma flor ao anjo, uma rosa a menina.

Encena tua vida, faça dela alegria.

É dia de reis, não, é outra festa que parece chegar.

É dia da menina, do anjo de menina, que na Terra veio morar.



(Moleca – Leonardo Kifer)