terça-feira, 21 de setembro de 2010

Aprendiz da ausência

Talvez eu devesse pensar como Drummond, e assim enxergar a ausência como “um estar em mim”, sim, uma doce vivência de me sentir por completo, me ter a ponto de saber o que falta e me deliciar com a maravilhosa experiência de rir nos momentos de pura abstinência. Mas a verdade é que não sou como Drummond...

Além de me serem escassas as palavras, ainda preciso do tempo como aliado, professor e conselheiro para caminhar ao meu lado em busca da sabedoria, que nenhuma ciência é capaz de nos dar. Torna-se sábio aquele que vive.

Resta-me apenas assumir minha inaptidão em lidar com a ausência, e assumir em lágrimas que sou fraco que as lembranças se fazem presentes, e quase sempre elas me visitam.

Vez ou outra me pego olhando para o lado, e não o encontro... Sua voz tem sumido cada vez mais, como se a imagem fosse o único recurso para se fazer lembrar. Por todos os cômodos o vazio é eminente e é impossível fingir não senti-lo... É difícil não senti tremer a boca quando ouço seu nome ou quando alguém despercebidamente fala sobre ele, é doloroso demais não tê-lo e só poder lembrar...

Queria aprender ser como Drummond para nos momentos em que a saudade for incontrolada e o resultado forem às lágrimas, como as de agora, que eu a sinta branca, tão pegada, aconchegada aos meus braços, me fazendo rir e dançar enquanto invento exclamações alegres, para ninguém roubar a ausência que sinto do meu pai de mim.

(Aprendiz da ausência – Leonardo Kifer)

*Cito versos do poema “Ausência” de Carlos Drummond de Andrade.

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