Um devaneio
Foi assim que ela surgiu pra mim.
Caminhando sobre a chuva fina de um outono calado,
Ela roubou minha atenção no instante em que a vi.
Deslizava sobre o asfalto molhado,
Ao mesmo tempo, que parecia voar com seu longo vestido branco.
De onde ela veio,
E para onde ela pretendia ir?
Não conseguia parar de me perguntar quem era aquela estranha mulher,
Que sorrateiramente me roubara pra si.
Fiquei imóvel,
Enquanto ela avançava em minha direção,
O cheiro de jasmim era tão intenso,
Que não se perdia no vento,
E vinha a mim por entre as gotas de chuva.
Ela não parou ao passar por mim,
Não me olhou,
Sequer pareceu me notar.
Eu rompi minha gelidez,
E a segui por entre à noite,
Ela prosseguiu sem sequer olhar para trás,
Eu começava a sentir frio,
Mas estava decidido a ir em frente.
Não conseguia querer parar.
Inexplicavelmente ela sumiu,
Como uma sombra que se perde no escuro,
Ela desapareceu.
Eu estava em um lugar que nunca havia estado,
Agora sozinho,
E assustado.
Tentei correr,
Voltar de onde eu vim,
Mas não me lembrava do caminho de volta.
Comecei a gritar,
Derrubar tudo que via na frente,
Clamava por alguém que pudesse me dar audiência,
Mas tudo em vão,
Eu realmente estava só.
Adormeci,
Talvez o cansaço me permitisse deitar em qualquer canto,
Escolhi o chão.
Era noite ainda,
Achei estranho ter dormido por tantos dias,
Pois já nem me lembrava como era o sol.
Até que a luz voltou,
Uma porta,
Este era o formato da luz.
Um homem de imediato surgiu em forma de uma enorme sombra,
Me levantou,
Eu amedrontado com tudo aquilo, não reagi.
Então como alivio,
Ele desamarrou o nó da blusa que segurava meus braços,
Eu estava solto de novo.
Ele perguntou se eu ainda via a mulher vestida de branco,
Mas desta vez eu menti,
Disse que não.
E ele me deixou ir.
Eu não queria que ele a conhecesse,
Estava perguntando demais sobre ela.
Por isso não falei a verdade.
Essa noite quando ela aparecer de novo,
Vou perguntar seu nome,
E se ela disser,
Eu não contarei a ninguém.
(Quimera – Leonardo Kifer)
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