quinta-feira, 20 de maio de 2010

Diferenças...

Era uma quinta-feira gelada quando descobri que a vida, a minha, não seria como sempre sonhei, eu teria que enfrentar a minha nova condição, ter cuidado redrobrado em tudo que eu fosse fazer e nunca poderia correr o risco de me descuidar uma outra vez.

“Tire o espinho de todas as rosas antes de tocá-las”, foi assim que aos 16 anos recebi a noticia de que eu era soropositivo. De repente as cores pareceram sumir para mim. A única cor que continuava presente era o vermelho, levemente rosado, que eu imaginava ser a cor que meu sangue passara a ter.

Por que logo comigo? Me perguntei incansavelmente, mas não havia resposta. Eu tinha um fato a enfrentar, não adiantava argumentar sobre o que já estava feito.

Não lembro por quantos dias seguidos chorei, foram muitos. O silêncio havia virado meu melhor amigo, a quem eu compartilhara todo meu tormento. O medo de que os outros descobrissem meu segredo fazia com que eu deseja-se a morte, e por várias vezes cheguei muito perto dela, mas a covardia não me deixou ir longe e acabei desisistindo de dar fim ao meu sofrimento.

Existiam duas opções, seguir em frente e tentar ter uma vida normal ou abrir mão de todos os meus sonhos e me entregar a morte, uma vez que com minhas próprias mãos eu não era capaz.

“Tire o espinho de todas as rosas antes de tocá-las”. As mesmas palavras que me condenaram a morte me trouxeram a vida de volta. Eu podia viver como qualquer pessoa, só precisava me cuidar. Foi então que decidi que não desistiria de mim.

Muitos dos meus amigos se afastaram, a maioria das desculpas era a falta de tempo, mas os poucos que ficaram pareciam não ter noção do perigo que eu era para eles, e o risco que eu repressentava por estar por perto.

Me formei sete anos depois e fui o melhor aluno da minha turma de Direito. Era 18 de Setembro de 2001, mas uma quinta-feira gelada da minha vida, e eu após sete anos de superação era só mais um dos muitos formados daquela festa, com a única diferença que ao contrário de todos os meus amigos eu era o único que não tinha companhia para o baile de formatura.

Depois que descobri que eu havia sido “tocado” pelo vírus da Aids eu fiquei muito tempo sem me relacionar com ninguém, na verdade eu só fui voltar a me relacionar com alguém na noite de minha formatura, quando finalmente resolvi que deixaria meu medo de lado e voltaria a me permitir ao amor. E assim fiz, ri como á tempos não ria, mexi com todas as moças solteiras que passavam por mim, não me importava com o fato de algumas virarem a cara, só queria curtir. Até que acabei esbarrando com a garota mais linda da festa, e de imediato decidi que eu ela seria a muher da minha vida.

Não foi diferente do que desejei, comecei a namorar Julia dois meses após conhecê-la. Contei a ela que sou soropositivo na noite do baile de formatura, minutos antes de convidá-la para dançar. Um ano e cinco meses depois ficamos noivos. Nos casamos há três anos atrás, seis meses após noivarmos. Temos uma filha, Vida é o nome dela, a adotamos há sete meses atrás.

Vida é uma criança linda, que me ensina diariamente que o amor é uma conquista. Não importa se meu dia foi ruim ou não, pois quando chego em casa, sou sempre recebido pelo sorriso de minha linda mulher e de minha filha.

Julia me trouxe de volta a vontade de amor, Vida a determinação em nunca me entregar.

(A história de Tiago – Leonardo Kifer).

Às vezes encontramos nos percausos a oportunidade de reencontrar nossos caminhos. Quantos Tiagos’s, Julia’s e Vida’s não deixamos passar sem que percebamos o quanto essas pessoas podem fazer uma enorme DIFERENÇA em nossas histórias?

Teremos sempre os espinhos, mesmo quando ele não existir. Pense.

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