quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Careca!

Lidar com as perdas nem sempre é fácil, e quase sempre ficamos com marcas eternas chamadas saudade.

Lembro-me das manhãs inteiras que eu passava esparramado no sofá da minha avó assistindo a desenhos animados enquanto recebia afagos daquela senhorinha de cabelos que pareciam ter sido feito de neve, tão branco eram...

Ficou os desenhos, a sala, até mesmo o sofá continua o mesmo... A casa apenas deixou de ser da minha avó. E engraçado que depois de quase dois anos que ela se foi, sua presença é constante, às vezes ainda consigo sentir seus passos, e enxergar seu olhar intenso, num tom de azul antes nunca visto.

Mas é preciso seguir em frente, e foi assim, desde a sua despedia que todos que conviveram com minha avó tem seguido, mas é difícil não tê-la presente.

Recentemente descobri que minha tia está com câncer, e pensar que em razão desta mesma doença minha avó se foi, e por isso passamos a ter ainda mais força para lutar contra, e unidos estamos acompanhando mais uma fase difícil da família.

Ontem quando fui informado que minha tia irá cortar os cabelos por conta do tratamento de quimioterapia que terá que se submeter, decidi raspar os meus, e fiz. Com a máquina que tenho em casa, raspei todo meu cabelo, terminando por ficar com uma cabeça lisa, e colocando de lado a vaidade cheguei sorridente na casa da minha tia, que ainda não teve seus cabelos cortados. E foi emocionante receber um abraço tão apertado como o que ela me deu, e sem que ninguém precisasse perguntar e eu tivesse que responder, todos entenderam que ela havia percebido que eu raspei meus cabelos como um gesto de solidariedade a ela, e que minha atitude vai além do fato de também perder os cabelos, significa que estarei lutando junto, e apoiando a cada novo resultado positivo, e que independente de quantos novos sacrifícios forem necessários fazer, faremos juntos.

Por fim, minha tia me soltou de seus braços, olhou bem nos meus olhos, abriu seu sorriso constante, que nem a doença foi capaz de ofuscar e disse-me: “Eita menino porreta!”.

A beleza das pessoas não está na “casca” da gente que se alimenta da vaidade, e sim na forma como conseguimos não nos importamos somente com nossa “casca”.

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