Ontem lendo o blog de uma amiga (Anny Maverick) percebi o quanto ainda sinto falta da minha avó, mesmo ela sendo tão presente em minha vida. E então resolvi dedicar este texto a ela (esteja ela onde estiver).
A minha gostosa:
É engraçado o quanto somos mutáveis à medida que vamos ganhando maturidade, passamos por diversas fases e em todas elas temos uma percepção diferente sobre “amar”, e comigo não foi diferente, mesmo sempre tido certeza de meu amor.
Entendo que todas as nossas brigas (muitas, afinal de contas, eu estava sempre aprontando e ela por sua vez me dando broncas) foram necessárias e inevitáveis, e talvez fundamentais para construir a relação que tivemos até o fim. Quantas foram às vezes que eu me deitei no sofá de sua casa e fiquei lá por todas as manhãs ou mesmo ficava até a hora do almoço só para comer seu macarrão e a sua carne assada que eram únicos (seus ovos fritos estupidamente gordurosos e aquelas batatas fritas. Nunca mais comi igual a elas!).
Minha avó não era e nunca foi exemplo de avó, e eu nunca desejei que fosse. Seu jeito peculiar mesclava frieza e carinho, mas sempre seus braços estavam abertos para receber quem fosse, precisava apenas sinalizar que algo não estava bem. Ela “xingava”, fumava cachimbo (sim, fumou cachimbo por toda a sua vida e eu definitivamente amava o cheiro do fumo de rolo que ela soprava entre uma baforada e outra).
Quando ficou doente ela não baixou sua crista, continuou com seu jeito de protetora e segurou ao máximo a dor, só para não dar trabalho aos outros... Nesta época eu morava sozinho, e pela distância eu a via pouco (choro ao escrever isso, por que me dói saber que não fui tão presente em seus últimos meses de vida). Lembro-me de sua felicidade em me ver e o modo como parecia ter orgulho em dizer que eu era lindo (vó sempre acha, não é?) e completamente maluco (ela sempre dizia que eu era maluco e levado).
A última vez que eu a vi foi no hospital, fui visitá-la e ela estava lá, falante como nunca, parecia que a doença (ela tinha câncer) era apenas um contratempo. Eu me contive para não demonstrar minha tristeza de vê-la naquele estado, ela apenas se preocupava de eu estar perdendo tempo ali (realmente é impossível conter as lágrimas, é como se eu estivesse revivendo todo o momento). Repetidas vezes eu disse que a amava, ela disse que ia morrer e eu mandei ela calar a boca e parar de falar besteira... A fiz prometer me esperar fazer sucesso (foi a coisa que me veio em mente, “FAZER SUCESSO”, achava e ainda acho tão distante de minha realidade que a quis prendê-la viva ao meu fracasso). Saí de lá arrasado, chorando, mas feliz de vê-la consciente e reclamando de não ter o que fazer.
Ela morreu algumas semanas depois (meu irmão me ligou as três duas da manhã para contar). Caminhei pelas ruas do Leblon me sentindo vazio, incompleto e terrivelmente enganado. Ela não cumprir o que prometerá.
No dia de seu enterro eu custei a entrar, não queria acreditar no que estava acontecendo... Mas era real e eu fui até o fim, estive até o último minuto perto (talvez fosse o desejo de acordar do pesadelo). As idas a sua casa (a casa será sempre dela) após a sua morte foram completamente dolorosas e invasivas, nada mais naquele lugar faz sentido. O jardim da casa morreu no mesmo instante em que ela se foi.
Hoje, quase dois anos após sua morte, ainda choro e sinto que tudo é um pesadelo, grande e sem fim... A saudade aperta, o coração acelera, e pouco a pouco a emoção se descreve em forma de lágrimas. Amor. Saudades. Eternidade. Minha avó Chica;
Nossa realmente senti esse texto.
ResponderExcluirTu sabes porquê.
MUITO BOA POSTAGEM!
Você arrasa sempre.
Sempre emocionante e sincero, verdadeiro.
Aaa li um texto seu que a Laís me mostrou.
Você escreve super bem, continuo achando que você deveria escrever um livro (tentar pelo menos) concerteza sairá coisa boa.
Beijos bonitão.
adorei o texto, bem feito, bem planejado !
ResponderExcluirparabéns guri, continue assim !