quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Zoe...


As única coisas que me lembro é de uma mulher gritando comigo dizendo que eu era um irresponsável e eu entrando em um carro depois disso não lembro de nada que me remeta ao meu passado.
Me disseram que fui socorrido de um acidente de trânsito e que eu entrei no hospital sem documentos de identificação. Mais eu não me recordo de nada deste dia. É como se eu tivesse nascido exatamente no momento em que recobrei a consciência, tudo que sei sobre mim é a partir de então.
As pessoas daqui do hospital me chamam de Zoe, tenho aproximadamente trinta e dois anos, sou branco, um metro e oitenta e três de altura, olhos verdes, cabelos negros e exatos setenta e cinco quilos. Gosto quando me apresento assim a alguém, faz com que me sinta alguém com identidade própria e não um desmemoriado que vagueia pelos corredores de um hospital cheio de gente estranha e moribunda, em busca de alguém que um dia virá dizer que sou.
Os médicos dos hospitais já me conhecem, e vira e mexe faço visitas a alguns pacientes que já estão internados a bastante tempo. De certa forma eu me sinto como se fosse um membro da família destes pacientes que ficam internados. E como se os outros que só passam por aqui em busca de um atendimento emergencial fossem visitas “indesejadas” por mim confesso, mais que por mais que incomodem elas são quase sempre passageiras.
Amanhã é o meu aniversário, faço um ano de vida como Zoe, e não sei se fico feliz por estar aniversariando ou se choro por não conseguir lembrar quem fui... Afinal a cada dia que vivo esta vida, eu deixo de viver a outra que tive. Hoje eu farei um pedido quando assoprar as velas do meu bolo, vou pedir para deixar de Zoe, e lembrar de mim, dos gritos, do acidente e de tudo que perdi.
(Lembranças de um homem sem memória - Leonardo Kifer)

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