segunda-feira, 1 de março de 2010

A calçada da ilusão...

Estranho como de repente andar pelas calçadas da Tijuca tornou-se diferente aos meus pés, talvez pela insistente chuva fina e o vento frio que soprava molhado por meu rosto, mas sem dúvida nenhuma, aquelas calçadas não eram as da Tijuca.

Não sei explicar ao certo, apenas sinto que cada passo que eu dava eu me fazia presente em algum outro lugar, de alguma outra década que não era essa. Por alguns momentos eu me vi em Paris, a cidade luz se refletia para mim em uma listra continua de concretos molhados, e de uma hora para outra eu estava em Havana, correndo da chuva e da perseguição voraz de um Fidel altivo e cruel.

É loucura, sei que todos devem pensar o mesmo, entretanto eu podia jurar que em todos os meus devaneios, nenhum sequer chegou a ter o grau de realidade que essas visões tiveram para mim. Obrigo-me a dizer que não sou louco, que ainda respondo por todas as minhas capacidades mentais, entretanto, não irei me desmentir quanto a estar nos lugares citados acima.

É engraçado como julgam insanidade aos que tem idade acima dos sessenta, e que a nós nenhuma integridade é dada a não ser o que restou da juventude, e que a lucidez é artigo de luxo para aqueles poucos velhos que fazem de suas fortunas uma assimilação ao respeito. Não sou um afortunado, a minha restam-me apenas uns tostões de reserva além da miséria do que ganho mensalmente de aposentadoria por anos a fio trabalhando como carteiro, ainda sim, exijo o direito de ter uma oportunidade de provar que não minto quando digo que ando por lugares desconhecidos todas as vezes que passeio pela recém formada Tijuca.

É comum a descrença daqueles que não nos conhece, mais da minha família dói demais... Ontem enquanto eu fazia mais um de meus passeios pelo quarteirão, decidi correr até minha casa e buscar um casaco afim de que eu pudesse suportar a insuportável temperatura que fazia em Munique, isso mesmo, era pelas ruas dessa cidade encantadora que eu andava, mas antes que eu pudesse pegar um casaco e voltar, fui surpreendido por dois de meus filhos que sem perguntar nada me pegou pelos braços e me trouxe para este lugar estranho, onde todos me olham com olhares vazios, como se não houvesse esperança em seus olhos, como se tivessem perdido suas vidas há muito tempo.

Meus filhos ficaram na ante-sala, não dirigiram uma palavra sequer comigo, e assim que eles ficaram para trás fui mandado trocar minhas roubas por um pijama azul, tive meus cabelos raspados, e a julgar pelo branco que tomou conta do chão, não me sobrara nenhum fio e por último fui jogado neste quarto quase que vazio, apenas uma privada e uma cama sem colchão o decoram. Era um sanatório, eu não quis acreditar, mas fui trazido para o mundo dos loucos. Mas eu não tive tempo de chorar ou me desesperar, a medida que eu ia me olhando pro lugar onde eu estava, tudo se transformava, e em questão de instantes eu estava de volta a Paris, e já havia deixado as calçadas para trás, eu estava dentro do Louvre, e podia tocar nas preciosas obras de arte, a Monalisa parecia sorrir para mim enquanto em caminhava em sua direção. Era uma Paris nova. Meus olhos ainda não acreditavam no que via; A raiva de ter sido trazido para cá se transformou em uma enorme gratidão aos meus filhos, e nada e ninguém mais poderiam me tirar deste mundo novo que eu acabara de ganhar.

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